Preciosidades

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Esquizofrenia



Doutor, o senhor vai me desculpar o linguajar, mas sempre achei que minha mulher não gostava de foder, doutor. É isso. Sério. O senhor pode até rir, se quiser, mas é a mais pura verdade. Ainda não sei se é só comigo que ela não gosta de foder. Andei até desconfiado. Sempre, sempre ela arranjava uma desculpa. E o senhor sabe, né doutor, homem é homem. E homem que é homem precisa da coisa, senão nem raciocina direito, se irrita fácil, começa a pensar bobagem. Periga até fazer uma loucura. No início, eu até que agüentava, procurava entender os argumentos dela. Dor de cabeça, enxaqueca, indisposição, mal estar, estresse, sempre havia uma desculpa. E olha que eu ‘to agüentando até que por muito tempo. 5 anos de casado, doutor. Nesse tempo todo, se transamos uma por ano foi muito. 


No início, pensei que era eu o problema. Talvez fosse tarado demais. Procurei me informar, li a respeito, me aprofundei. Quando me especializei no assunto, comecei a pensar na possibilidade de ser “ela” o problema. Sabe? Falta de libido. Pouco hormônio. Comecei a pedir que ela falasse com um ginecologista, um psiquiatra, um psicólogo, qualquer pessoa que ajudasse. Foi aí que ela procurou o senhor doutor. O nome dela é Solange, doutor. O senhor deve se lembrar dela. É alta, quase um e oitenta, um cabelão loiro até metade das costas. É bonita, o senhor deve lembrar, doutor. Tem um corpo que é um espetáculo. Foi esse um dos motivos que eu dei em cima dela e consegui casar. Estava realizado, pensava. Com um mulherão desses em casa, jamais iria procurar as putas de novo, pensava. E qual não foi a minha surpresa quando todas as minhas expectativas foram por água abaixo.


Um dia, quase dois meses depois de casado, só tínhamos dado umazinha só, fui então obrigado a, durante um banho, bater uma de novo. E o senhor vê, doutor, um homem casado, que formou família, dono de uma empresa, com uma vida boa e confortável, vendo-se obrigado a descarregar a coisa num ralo de banheiro. Quando dei por mim, fiquei puto com a situação. Mulher casada tem que dar pro marido, é obrigação conjugal, o senhor não acha, doutor? Pois bem, comecei a pressionar. Ou ela me dava, por livre e espontânea vontade, ou eu ia procurar as putas de novo. E ela me ignorou mais ainda, a desgraçada. Um mulherão daqueles que não fode, doutor, é que nem aquelas maças argentinas, enormes, bonitas, mas que não tem gosto de nada. Nem criança gosta daquilo, até parece que injetam água dentro delas, o senhor sabe, né doutor?


De uns meses pra cá, doutor. Eu comecei a ficar em cima dela, só cuidando, observando. Fui bastante cuidadoso, nem tenho ido até à empresa, passei minhas responsabilidades pra um funcionário muito bom que tenho lá. E comecei a vigiá-la. Tinha alguma coisa nessa história toda que não batia, doutor. A mulher tem certas vantagens sobre a gente, né doutor. Mas ninguém é tão esperto assim. Como dizem, ela pode até enganar alguém por muito tempo, mas ninguém engana todos todo o tempo. Foi aí que eu a peguei de jeito, doutor. Cheguei até a pensar que ela fosse sapato, doutor. O senhor sabe, doutor, dessas que só gostam de se roçar, que tem aversão a pêlo, suor, barba. Sei lá! E dizer que hoje chamam essa pouca vergonha de “lésbian chique”. Nunca fui contra e até que sempre gostei de ver nos filmes duas boneconas lindas se lesbicando. Mas mulher minha, doutor? Tenha dó. Escolhi a dedo e tive a sorte de pegar uma daquelas? Não, não podia ser verdade.



Uma bela manhã dessas, fiz que saí pra empresa e fiquei de butuca na esquina perto de casa, só pra ver onde ela ia. E não deu outra, doutor. Bastaram alguns minutos e lá ia saindo ela. Toda emperiquitada e arrumadinha. Coisa que jamais fez pra mim, doutor. A desgraçada se arrumava toda pra dar, doutor. Aquilo me doeu, sabe? Como se uma mulher daquelas precisasse se arrumar pra foder. E ela foi a pé até a outra esquina. Desci e a segui de longe. Lá na esquina, um vectra,  desses novos, prateado, estava esperando ela. Não deu outra, doutor. Ela entrou no carro e eu a vi até dando beijinho na boca do motorista. Aquilo foi como uma facada no coração, doutor. Eu finalmente tinha a certeza de que era um corno, doutor. Pensei que o fato de ela ter amante homem, ao invés de uma outra mulher, seria menos chocante. Mas não foi. Meu! Na hora, nem consegui raciocinar. Fiquei no carro pensando, matutando o que eu iria fazer. Tinha que descobrir quem era o cabra, doutor. Minha mulher com um ricardão. Jamais imaginei que isso ia acontecer. Sempre achei que eu era bom de cama e que iria judiar da boneca de tal modo que ela jamais ia querer conhecer ou testar outro, doutor. Mas eu tava enganado, doutor, redondamente.


Durante o período da faculdade, cheguei a freqüentar algumas aulas de Direito Penal e Medicina Forense. Lá descobri a teoria de Lombroso. Segundo ele, o criminoso já nasce criminoso e mais dia, menos dia, ele vai cometer o crime, não importa o que aconteça. É como uma bomba de retardo, só que não se sabe quando vai detonar. E quando menos se espera, bumm, o crime está feito. E todos se perguntam: Mas como? Ele sempre foi um homem bom, direito, pai de família... Blá, blá, blá. É sempre assim. E hoje eu concordo com ele. O criminoso já nasce criminoso.

P.S.: procurei o autor deste texto, mas não encontrei. Se alguém souber avise-me que darei merecidamente os créditos. Texto nota 1.000.






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.