Preciosidades

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

“O livro do futuro”. Ziraldo


“Muito se fala sobre o futuro sombrio do livro diante do avanço de outras mídias. O livro precisará se adaptar para conseguir sobreviver à era digital?” (Revista Aplauso)

Não consigo imaginar que outro suporte a literatura e a poesia vão encontrar para se exercer. O livro é o objeto mais perfeito que o ser humano inventou. Se eu conheço a alma humana, uma lágrima há de manchar, sempre, a página de um livro; quem lê não vai deixar nunca de sublinhar a frase que marcou sua vida, haverá sempre uma violeta para alguém esquecer guardada entre uma página e outra. Há vários anos, logo que tomei conhecimento dos mecanismos da internet, eu inventei o livro do futuro: uma prancheta escolar, tendo na sua superfície uma tela branca de 14x24, com textura de papel. Você compraria na livraria um disquinho com toda a Divina Comédia, por exemplo, enfiava o disquinho numa ranhura da prancheta, apertava um botão e aparecia, na tela branca a capa do livro. Apertava de novo, aparecia a página de rosto, depois a página 1 (ou 5) e aí começava o livro, passando página por página com o apertar do botão. Você não precisava molhar o dedo. A prancheta teria cheiro de livro novo e as letras seriam todas com serifa, pretas sobre fundo branco. A gente ia ter, em casa, estantes com livros de papel só para enfeitar e matar as saudades. Acredito, de fato, que as enciclopédias e os livros de informação vão desaparecer para sempre. Mas os livros de versos ou de histórias, como a da madame Bovary, nunca. Jamais. (Entrevista de Ziraldo à Revista Aplauso nº 103, p. 9, 2009)

Ziraldo não menciona a data em que teve esta sua projeção de como seria o seu livro do futuro, mas o futuro está aí, agora, neste momento e, talvez, o livro mencionado por ele já exista e tenha até nome. Chama-se, em inglês, “E-Reader”. Pode ser o Sony Reader ou o Kindle. Segundo reportagens da Revista Superinteressante nº 272 de Dezembro de 2009, páginas 23 e 36, o Kindle além de substituir o livro físico de papel, poderá contribuir para a popularização da leitura, mas com um sério ônus. Segundo a pesquisa divulgada pela Revista, a produção de um e-reader, como o Kindle, gera 168 kg de CO2, contra apenas 7,46 kg de CO2 para a produção de um livro, entretanto, apesar do e-reader gerar 22 vezes mais poluição, compensa pela capacidade de armazenamento, pois num e-reader como o Kindle cabem 2000 livros comuns. Há perspectivas de que sejam vendidos mais de 14 milhões de e-readers, no mundo, até o ano de 2012. Isso evitará a “liberação de 1,6 trilhão de quilos de CO2, o equivalente à poluição gerada a cada ano por 800 milhões de carros”. A manchete é: “O Kindle pode salvar o mundo”. Será? E, se for, que venham então os “e-readers”. Welcome to the future! (Ramiro R. Batista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.