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sábado, 4 de setembro de 2010

1001 FILMES para ver antes de morrer. Steven Jay Schneider

Conforme seu título já sugere, 1001 filmes para ver antes de morrer é um livro que busca não apenas informar e sugerir, mas também motivar: transformar leitores curiosos em espectadores apaixonados e deixar claro que a pressão é imensa, o tempo é curto e o número de filmes que devem ser assistidos se tornou realmente grande.



Hoje em dia, listas dos "10 mais" sobrevivem quase exclusivamente como enquetes anuais dos críticos e debates sobre os "100 melhores filmes" tendem a se restringir ou a gêneros específicos - como comédia, terror, ficção científica, romance ou faroeste - ou a cinematografias nacionais, como as da França, China, Itália, Japão ou Inglaterra. Tudo isso indica a impossibilidade - ou pelo menos a irresponsabilidade - de se trabalhar com um número menor do que (digamos) mil, quando se pretende preparar uma lista dos "melhores", ou dos mais valiosos, importantes ou inesquecíveis filmes de todos os tempos; uma lista que queira fazer justiça e abranger toda a história da mídia cinematográfica.

Com o objetivo acima em mente, mesmo 1001 rapidamente começa a parecer um número pequeno demais. Talvez nem tanto, se deixássemos de fora os filmes mudos; ou de vanguarda; ou do Oriente Médio; ou as animações; ou os documentários; ou os curta-metragens... Essas estratégias de exclusão, contudo, acabam sendo apenas maneiras de diminuir a pressão, de traçar linhas arbitrárias na areia cinematográfica e de se recusar a tomar a série de decisões difíceis, porém necessárias, para se ter uma seleção limitada de filmes que trate todos os tipos e escolas e tradições diferentes que compõem a arte do cinema com o respeito que lhes é devido. O livro que você tem em mãos assume um grande risco ao oferecer uma lista de filmes imperdíveis que abrange todas as épocas, gêneros e países. Contudo, este é um risco que vale a pena correr e, se você estiver disposto a ver todos os filmes discutidos aqui, pode ter certeza de que morrerá um cinéfilo feliz. Resumindo: quanto mais filmes você vir, melhor.

Então, como determinamos quais 1001 filmes você deve ver antes de morrer? Seria muito mais fácil, e geraria menos controvérsia, se tivéssemos que listar 1001 filmes que devem ser evitados a qualquer custo! Não é nada surpreendente quando se descobre que a crítica de cinema não pode ser considerada uma ciência exata, e não é exatamente um exagero dizer que o Perdidos na noite de uma pessoa pode muito bem ser o Ishtar de outra. Talvez haja maneiras de comparar objetivamente - e até classificar - ciclos, movimentos e subgêneros altamente codificados e historicamente específicos, como o thriller italiano da década de 70, tendo por base, neste caso, a violência estilizada, as narrativas labirínticas e a identificação psicológica. E talvez seja legítimo separar os clássicos indiscutí veis de Hitchcock (Intriga internacional, Janela indiscreta, Um corpo que cai, Psicose, Os pássaros, etc.) dos que são geralmente considerados filmes mais fracos do diretor (Cortina rasgada, Trama macabra, Topázio, Agonia de amor). Porém, em que se basear para escolher entre A hora da partida, de Tsai Ming Liang, e O que terá acontecido a Baby Jane, de Robert Aldrich? Ou entre Viagem à Lua, de George Méliès, e Uma questão de silêncio, de Marleen Gorris? Se o objetivo deste livro é mesmo incluir um pouco de tudo, então como evitar que a lista de 1001 filmes resultante se torne uma grande e diversificada amostra da produção cinematográfica - um caso de mera variedade em detrimento do verdadeiro valor?

São boas perguntas. O primeiro passo para determinarmos os 1001 filmes a serem incluídos aqui envolveu analisar atentamente o número de listas já existentes dos "favoritos", "maiores" e melhores" filmes e priorizar os títulos com base na freqüência com que cada um aparecia nelas. Isso nos ajudou a identificar uma espécie de cânone de clássicos (incluindo os modernos e contemporâneos) que acreditamos merecer um lugar de destaque neste livro, baseando-nos simultaneamente em qualidade e reputação. O que não quer dizer, de forma alguma, que todos os filmes presentes nessas listas mais curtas - e por vezes peculiares - entraram em nossa lista final, mas o exercício nos deu ao menos alguns pontos de referência essenciais e reduziu significativamente a inevitável natureza subjetiva da seleção.

Depois de chegarmos a um conjunto provisório de cerca de 1300 títulos, partimos para revisar a lista de novo (e de novo, de novo, de novo...) com o duplo - e conflitante - objetivo de reduzir o número total e ainda abranger a contento os vários períodos, cinematografias nacionais, gêneros, movimentos, escolas e autores notáveis. Com todo o respeito à última categoria, interpretamos a noção de "autor" com a maior flexibilidade possível, de modo a incluir não apenas diretores (Woody Allen, Ingmar Bergman, John Cassavetes, Federico Fellini, Jean-Luc Godard, Abbas Kiarostami, Satyajit Ray, etc.), como também atores (Humphrey Bogart, Marlene Dietrich, Toshirô Mifune), produtores (David O. Selznick, Sam Spiegel, Irving Thalberg), roteiristas (Ernest Lehman, Preston Sturges, Cesare Zavattini), fotógrafos (Gregg Toland, Gordon Willis, Freddie Young), compositores (Bernard Hermann, Ennio Morricone, Nino Rota), etc.

Também tomamos o cuidado de não dar preferência automática - passe livre, por assim dizer - a produções autodesignadas como "de alto nível" ou exemplos de grande arte cinematográfica (épicos históricos, adaptações da obra de Shakespeare, experimentos dos formalistas russos), deixando de lado os gêneros considerados "menores" (comédia pastelão, filmes de gângster da década de 30, cinema de blaxploitation), ou até mesmo filmes de méritos estéticos relativamente questionáveis (Pink Flamingos, Os embalos de sábado à noite, A bruxa de Blair), franco apelo popular (Top Gun - Ases indomáveis, Quero ser grande, E.T.: o extraterrestre), ou aqueles de valor ideológico ou ético questionáveis (O nascimento de uma nação, Monstros, O triunfo da vontade, Os 120 dias de Sodoma). Em vez disso, nos esforçamos para julgar cada um dos candidatos por suas próprias qualidades, o que significava, para começo de conversa, descobrir da melhor forma possível em que consistia a "qualidade" em questão - o que nem sempre é tarefa simples ou óbvia, como no caso de Pink Flamingos, cuja infame chamada já dizia "um exercício de mau gosto" - e então encontrar maneiras de separar o joio do trigo (mesmo que a diferença entre os dois pareça tão pequena a ponto de ser indiscernível ou irrelevante).

Existe um velho ditado que diz: "Mesmo que você coma filé mignon todos os dias, de vez em quando vai querer um hambúrguer." Em outras palavras, mesmo que seu gosto cinematográfico pese bastante para o lado dos clássicos mundiais reconhecidos (Cidadão Kane, Rashomon, Touro indomável e Encouraçado Potemkim), ou dos tesouros do cinema de arte europeu (A aventura, Hiroshima meu amor e Último tango em Paris), em algum momento você irá querer assistir a um filme que se presta a objetivos completamente diferentes, seja ele um megassucesso hollywoodiano (O parque dos dinossauros, O império contra-ataca, Titanic), uma bizarrice underground (Scorpio Rising, Criaturas flamejantes, Hold me While I'm Naked), ou uma curiosidade cult (El Topo, O segundo rosto, Slacker, Mundo cão, O homem de ferro). 

Da forma como pensamos este projeto, nossa tarefa principal era garantir que, qualquer que fosse seu gosto cinematográfico genérico, ou naquele dia específico em que você resolvesse experimentar algo diferente, este livro pudesse ser um menu em que cada prato é sempre bom.

Finalmente, depois de fazer os derradeiros e sofridos cortes necessários para reduzir a lista para "meros" 1001 filmes, o último passo era ajustar os resultados com base nas opiniões e sugestões oferecidas pelo nosso estimado grupo de colaboradores, cuja experiência coletiva, o conhecimento e a paixão em assistir, debater e escrever sobre filmes garantiram que, embora nenhuma lista de "melhor qualquer coisa" possa ser perfeita (seja lá o que isso signifique) ou totalmente incontestável (não seria uma chatice?), a que você tem nas mãos fosse a melhor possível. No entanto, não é apenas a lista em si que torna este livro tão especial, mas também as resenhas encomendadas que acompanham cada um dos 1001 filmes - ensaios concisos, bem escritos e estimulantes que combinam perfeitamente detalhes importantes do enredo, comentários perspicazes, contexto histórico e cultural e uma boa quantidade de curiosidades (Quer dizer que pensaram em chamar George Lucas para dirigir Apocalipse Now? Quem diria!). Não se deixe enganar pela facilidade com que estes ensaios são digeridos. É preciso um talento único - ou até arte - para se escrever um texto profundo e cativante de apenas 500 palavras sobre filmes como Casablanca, Rastros de ódio ou A regra do jogo, quanto mais 350 palavras sobre Boogie Nights - Prazer sem limites, Gritos e sussurros ou O mensageiro do diabo, ou (pasmem!) 200 palavras sobre Marketa Lazarova, O pianista, ou Cléo das 5 às 7. De alguma forma, e com grande presença de espírito, eles conseguiram, e de modo brilhante.

Quanto à minha experiência em trabalhar neste livro, só posso dizer que as dores de ter que cortar vários dos meus favoritos foram mais do que compensadas pelo prazer de admirar a seleção resultante, de ler tantas resenhas de críticos maravilhosos e descobrir tanto sobre a história, as tradições e os tesouros escondidos que eu não conhecia. Mesmo que você tenha visto todos os 1001 filmes discutidos nestas páginas (parabéns, embora eu duvide bastante), tenho certeza de que será tremendamente recompensador ler sobre eles aqui.

Como editor geral de 1001 filmes para ver antes de morrer, tenho a honra e o privilégio de agradecer a todas as pessoas responsáveis por garantir o sucesso inevitável deste projeto ambicioso. Minha gratidão a Laura Price, Catherine Osborne e ao restante da equipe da Quintet Publishing, uma divisão do Quarto Group; a Andrew Lockett, do British Film Institute; aos mais de 60 colaboradores de nove países diferentes que trabalharam com prazos apertados e um editor carrasco (eu) para produzir as resenhas divertidas e informativas; e, como sempre, a minha família, meus amigos e colegas, cujo apoio e incentivo continua sendo minha arma nem tão secreta assim.

STEVEN JAY SCHNEIDER
EDITOR GERAL

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Nota da edição brasileira
 
Os filmes que foram lançados no Brasil aparecem no livro com o título em português e abaixo dele, entre parênteses, o título original na língua do país de origem. Os filmes que não foram veiculados no Brasil entram com seu título original e uma tradução aproximada no texto
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Fonte: revista Veja.

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